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1984 – George Orwell

Atualizado: 20 de jun.



Escrito em 1948 (daí a inversão: 1984) e publicado em 1949, esse foi o livro discutido pelo Clube de Leitura da AVL, em sua primeira reunião presencial pós pandemia. Classificado como ficção utópica e distópica, essa foi, sem dúvida, a leitura que mais me incomodou, nos últimos tempos.


A obra é baseada em um regime político totalitarista e nos mostra as consequências da manipulação de massa, do controle da vida das pessoas e total vigilância dos indivíduos. Para tal, Orwell afirmou inspirar-se na reunião dos líderes dos Aliados na Conferência de Teerã, em 1944, cuja pauta fora a Segunda Guerra Mundial.


O livro nos apresenta uma sociedade oprimida pelo regime totalitário nas décadas de 30 e 40,  em três nações: Oceania, Eurásia e Lestásia, em constante conflito bélico. Eram nações governadas pelo totalitarismo, e coordenadas pelo “Grande Irmão”, uma figura retratada em enormes cartazes espalhados por todos os espaços, com o objetivo de vigiar as pessoas. Daí se originou a expressão “Big Brother” no ramo do entretenimento.


Winston é o protagonista da narrativa, reside em Londres, na fictícia Oceania, adepto do Partido, encarregado de apagar, mudar ou fazer desaparecer aspectos da História que não convergissem com os ideais do regime. As estatísticas eram manipuladas para que tudo parecesse bom, os jornais eram alterados e a história reescrita. O lema do Partido era “Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força.” O poder era representado por apenas quatro ministérios: Ministério da Verdade, responsável por tudo o que é escrito; Ministério da Paz, responsável pela guerra; Ministério da Fartura, responsável pela economia e Ministério do Amor, responsável pelo controle da população. Pelas ruas viam-se cartazes com o escrito: “O Grande Irmão está de olho em você”.


Havia ainda as “teletelas”, ferramentas de controle espalhadas por todos os cantos, transmitindo mensagens e monitorando as reações das pessoas. Funcionavam como televisores e câmeras, porque o Grande Irmão, ditador e líder máximo, devia ver e saber tudo, embora nunca tenha sido visto por ninguém, para que cada um moldasse uma imagem dele, conforme seu medo.


O intenso controle sobre a população, a doutrinação incessante através das teletelas, a distorção da realidade, o racionamento da alimentação e dos bens, era potencializado pela “Semana do ódio” e pelo enquadramento em “crimideia”, pelo duplopensar, caso questionassem o partido.


Particularmente, o mais impressionante era o “novidioma” ou o cancelamento de palavras, a proibição de determinadas expressões, restringindo a língua a poucos e escassos termos, o que por consequência implica o embotamento do raciocínio. Se não posso falar, deixarei de pensar sobre. Talvez uma das maiores violências: coibir a comunicação. A novilíngua visava travar o pensamento através da diminuição do vocabulário.


Muito impactantes foram as descrições da tortura imposta a Winston, quando, apaixonado por Júlia, tenta se colocar contra o partido. As sessões de perguntas objetivando a alteração de convicções e consequente lavagem cerebral, causam repulsa e indignação. Friamente, meticulosamente, o processo de esvaziamento se impõe e gera resultados, após passarem pelo quarto 101, considerado o “pior lugar do mundo”.


A tortura só cessa quando são convencidos das qualidades do Partido e do Grande Irmão. Infelizmente, há inúmeras relações que podem ser estabelecidas entre a ficção em tela e a realidade atual.


Por isso, “1984” (publicado em 1949) “é uma obra rara, que fica mais assustadora à medida que sua trama se torna mais real a cada dia que passa. (…) O brilho dessa obra está na previsão sobre o futuro, sobre a vida moderna: a onipresença da televisão (ou pequenas telas), a distorção da linguagem, o engano oficial, a manipulação da História por um regime totalitário.” George Orwell morreu, de tuberculose, sete meses após a publicação de “1984”. Seu maior legado foi a lucidez política. Infelizmente, há quem não se aproprie.


“Cortamos o vínculo entre filhos e pais, entre homem e mulher. Ninguém mais se atreve a confiar na esposa ou em um filho ou amigo. (…) Não existirá amor, exceto o amor pelo Grande Irmão.” (pág. 288-89)


(*) Aldora Maia Veríssimo – AVL – Cadeira nº 04

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