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A Primavera chegou (é preciso apreciá-la!)

Atualizado: 20 de jun.



A Primavera começou há poucos dias. Não há como não perceber já que a paisagem se pintou de mil cores: o vermelho das onze horas, o amarelo, o lilás e o branco dos ipês e as demais cores do arco íris nas flores dos jardins domésticos, por mais simples que sejam.


As manchetes e reportagens das mídias falada e escrita nos assombram com o desrespeito ao meio ambiente e alertam para as mudanças climáticas, mas a primavera não falha. Desde as flores mais simples às mais sofisticadas obedecem ao ciclo do florescimento apresentando os diversos tons de seus filetes e pétalas, no tempo certo.


Conforme Clarice Lispector “A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. (…) e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega. (…)”


Neste nosso país de dimensões continentais, onde há regiões em que o sol e o calor são permanentes, e outras em que até há neve, às vezes nos perdemos no ritmo das estações; não há muita diferença entre umas e outras, mas quando é primavera todos nós percebemos!


A mim me parece que o sol tem um amarelado mais vivo, o calor vem sempre acompanhado de uma brisa e as flores, ah! as flores deixam tudo mais bonito e provocam, instantaneamente, um sorriso em quem perde alguns segundos para admirá-las!

E havendo flores, e céu, e sol, há também pássaros! Neste “rincão interiorano” em que moramos, ainda temos a possibilidade de ouvir pássaros pela manhã (e no final do dia!), em uma algazarra que me lembram crianças em discussão acalorada por algum fato que tenham presenciado. Todos “trinam” e ninguém se entende, todos “algazarram” e repetem os mesmos sons, atropelando-se uns aos outros, mas a comunicação continua. Mas, entendem-se? Não sei, mas exercem suas capacidades de comunicação. Assim vejo os pássaros, principalmente as maritacas, e as crianças, quando convictas e felizes.


Clarice Lispector, em um de seus textos nos diz, que se a natureza estiver preservada, “as matas intactas e as árvores cobertas de folhas, os poetas, e só os poetas, sabem (e poderão perceber!) que uma deusa, coroada de flores, com vestido bordado de flores, com os braços carregados de flores, vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz”, quando a primavera chega!


Talvez, um dia, não muito distante, se o ser humano continuar desrespeitando o meio ambiente, não tenhamos mais a primavera como a conhecemos e admiramos; mas, quem sabe, os homens terão o resultado de suas ousadias científicas, em que haverá flores, e embora belas ressintam-se da ausência de sentimentos.


Mas, enquanto houver esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos, escutemos as vozes que andam nas árvores, caminhemos por ruas e estradas computando quantos ipês e de quais cores tivemos o privilégio de ver!


Ressinto-me da ausência das cigarras; na minha infância cigarras e primavera eram concomitantes!


Acreditemos, é certo que a primavera sempre chega. É certo que a natureza não se esquece, e a terra, maternalmente, se enfeita para a perpetuação das flores e da vida, porque são imbricadas.


Sempre ouvimos – e lamentamos! – que as flores são efêmeras, duram pouco, são visíveis por pouco tempo, brilham por um instante, mas, são as responsáveis por trazer à tona a obscura semente, para que na rotação do cosmos, a vida continue!


“Saudemos a primavera, efêmera, mas, dona da vida!” (Clarice Lispector – adaptado)


(*) Aldora Maia Veríssimo – Presidente da AVL

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