
Ah, as redes sociais, às vezes, nos surpreendem positivamente! Há poucos dias, ouvi, em um vídeo, na voz suave de um grande amigo, a interpretação da música “A lista” de Oswaldo Montenegro e percebi ser ela um belíssimo mote para uma reflexão na virada do ano.
Muitas são as pessoas que, ao se aproximar o fim do ano, se sentem assaltadas por uma melancolia inexplicável; pensar no ano que passou pode levar ao balanço de uma vida toda e possibilitar, realmente, uma virada em nossas vidas e, não apenas, uma virada de calendário. O que fomos, o que somos? O que fizemos, o que deixamos de fazer? Estamos satisfeitos com a vida que levamos ou a insatisfação é nossa parceira?
E a letra dessa música nos induz a uma importante reflexão.
Os amigos, quem não os tem? São o tempero de nossas vidas. Mas, se fizermos uma lista de grandes amigos, aqueles com quem convivíamos desde a adolescência, quantos desses amigos ainda vemos todos os dias? Quantos já não encontramos mais? Por que não os vemos mais? Mudaram-se de cidade, morreram ou apenas nos afastamos? Sentimos saudade ou falta desses amigos? Há como reencontrá-los? Quantos amigos “jogamos” fora? E, certamente, a solidão se instala onde faltam amigos! (“Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito.”)
E os sonhos, (combustível que impulsiona nossa evolução) que sonhamos na infância ou mesmo na idade adulta? Já conseguimos realizá-los todos ou apenas alguns? Não os realizamos por quê? Não houve empenho ou esforços? Não desistimos, apenas os reformulamos? Ou desistimos de sonhá-los? (“Tenho um sonho em minhas mãos, amanhã será um novo dia.”)
E os amores das nossas vidas? Aqueles que entendemos que jamais esqueceríamos? Ainda os amamos ou somos amados? Ou nada restou desses amores? Dos amores jurados na adolescência, quantos conseguimos preservar? Das pessoas que considerávamos dignas do nosso amor, quantas nos amam, ainda? Se não amamos ou não somos amados, como podemos ser felizes? (“Quem nunca sonhou com um amor tão intenso, que nos transborde?”)
Se olharmos no espelho, hoje, e nos compararmos com uma foto do passado, é possível nos reconhecermos nessa foto já desbotada pelo tempo? Ou nos sentimos perfeitos estranhos? Quem somos nós: aquela imagem da foto do passado ou a imagem que vemos no espelho, agora? Estamos hoje do jeito que imaginamos que seríamos? O que mudou: nossos traços envelhecidos pela passagem inexorável do tempo ou mudaram nossos sentimentos mais íntimos que se refletem na perda do viço da felicidade? (“Seria bom se o espelho refletisse a nossa personalidade em vez da nossa aparência.”)
E os nossos segredos, as nossas dúvidas sobre a vida e a humanidade? Foi possível resolvê-los ou entendê-los? Os segredos guardados a “sete chaves”, ainda interessam a alguém ou perderam o valor e a importância? (“Qual o segredo da felicidade e do sucesso?”)
E os nossos valores morais? Como andam nossa honestidade, solidariedade, compreensão, gentileza, educação, respeito, ética, tolerância, integridade? Mentir é imoral, até quando? Quem nunca mentiu por “uma boa causa”? Deslizes, falhas de caráter... por incrível que pareça, “podem ser o melhor que há em nós” dependendo das circunstâncias. Paradoxal! Quantas foram as canções que o bom senso nos impedia de cantar, mas até hoje permanecem em nosso subconsciente e as assobiamos porque acreditamos em seu conteúdo? (“Vem, vamos embora/Que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora/Não espera acontecer”)
Na verdade, ao “apagar das luzes” deste ano, já sabemos que o balanço de nossas vidas não será totalmente positivo. Somos seres controversos e em constante evolução: hoje somos, amanhã não somos mais; hoje cremos, amanhã desacreditamos; hoje choramos, amanhã gargalhamos; hoje dor, amanhã prazer; hoje energia, amanhã desfalecimento, hoje vida, amanhã morte; hoje compreensão, amanhã revolta; hoje segurança, amanhã indecisão; hoje felicidade, amanhã infortúnio; hoje amor, amanhã... E assim a vida segue. Que todos nós tenhamos discernimento para uma autoanálise sincera e disposição para evoluirmos e vivermos cada ano da melhor forma possível. Feliz 2023 a todos!
“Não existem sonhos impossíveis para aqueles que acreditam que o poder realizador reside no interior de cada ser humano.” (Albert Einstein)
(*) Aldora Maia Veríssimo - Presidente da AVL