
Estou em um momento da minha vida que considero privilegiado: estou “idosinha” como diz meu neto, aposentada, colhendo os resultados da maternidade e tenho tempo, tempo para ver a vida com olhos complacentes e capazes de exercitar a compreensão...
Acredito que fui uma mãe amorosa, cuidadosa e exigente. Criei filhos dos quais me orgulho muito. Com um amor incondicional, que beira ao exagero. Mas, estão criados, felizes e protegidos pelo Criador. São agora meu sustentáculo e meu amparo.
E agora sou avó. O tempo, que é o senhor da razão, só nos faz bem. Hoje, olho a vida com olhos mansos, tento superar minhas angústias e enfrentar as adversidades, conforme a água que não luta com os obstáculos, antes, os reconhece e, apenas, os contorna. Minha jornada, que considero exitosa, me instrumentalizou para valorizar, sobremaneira, as situações mais corriqueiras da vida.
Há alguns dias fui presenteada com uma mistura de emoções!
Meus netos, como milhares de outras crianças, voltaram às aulas, com direito à noite anterior mal dormida, devido à ansiedade, e um despertar, pasmem, rápido e bem-humorado. O horário do almoço foi curto para tantas novidades: qual a professora mais “legal”, o reencontro com os amigos, matar a saudade do melhor amigo, as primeiras atividades e as novidades do novo ano letivo.
Emocionante ver o brilho nos olhos de uma criança no dia de volta às aulas após as férias. O sorriso, os comentários, os novos detalhes da escola, o carinho ao falar das professoras, mesmo as recém conhecidas. Os comentários são feitos com tanta propriedade, com tanta seriedade, com tanto entusiasmo, com afeto mesmo, que certamente emocionariam as profissionais às quais eram dirigidos.
Sei da importância dos profissionais da educação; em sua maioria, acredito que desempenham suas atividades com o máximo de cuidado e competência, mas, quem está do lado de cá, vê, sente, constata o bem e o mal que um professor pode provocar em uma criança. Isso fica bem claro no olhar das crianças cujo brilho significa a admiração, a crença, a “dependência cognitiva” e a confiança que liga o aprendiz ao mestre.
Em seu livro “Basta”, Mário Sérgio Cortella diz: “Faz parte da competência docente a capacidade de não só fazer bem aquilo que se faz, mas fazer o bem com aquilo que se faz”. Desenvolver bem a atividade docente significa que além de desenvolver os aspectos cognitivos, necessita também impedir a desertificação do futuro e não permitir a esterilização dos sonhos de cada um de seus alunos, assim como preservar a audácia e a esperança que existem em cada coraçãozinho.
Em minha longa carreira no Magistério, presenciei inúmeros casos de crianças e adolescentes que não deram certo na escola devido ao contexto familiar, mas vi também, inúmeros casos em que apesar do entorno familiar tóxico, os estudantes brilharam na escola e na vida. Isso prova a importância da educação para o crescimento integral da sociedade. Educação de qualidade, educação que respeita, educação inclusiva, educação humanística, educação libertadora...
Assim é. Negar a uma criança a educação de qualidade a que ela tem direito é um crime. É condená-la à estagnação, é fixá-la à condição social de origem sem deixá-la avançar, é deixá-la vulnerável às vicissitudes da vida.
Criança e escola, uma parceria que tem que dar certo. Se assim for, estaremos cuidando bem dessas gerações em desenvolvimento e aí, então, poderemos construir um mundo melhor, uma vida boa e abundante para todos.
“Não é a escola, por si, que fará a transformação da sociedade, mas sem a escola isso não será feito”. (Paulo Freire 1921 - 1997)
(*) Aldora Maia Veríssimo - Presidente da AVL