
José Carlos Bonfim, 55 anos , é hoje um dos empresários prósperos de Presidente Venceslau. Proprietário do Lojão do Amigo Bonfim, estabelecimento comercial localizado defronte a praça da Vila Santa Filomena, na rua da Feira de Quarta, Bonfim remonta uma história de vida de muita luta e fé em Deus. Ficou entre a vida e a morte no final de 2020, quando foi acometido de Covid-19. Foram quase dois meses internado, 30 dias na UTI e 19 deles entubado. Venceu a doença e, hoje, segue tocando seu negócio ao lado da mulher Célia e do filho Renan.
Nascido no distrito de Ameliópolis, onde viveu até os 05 anos de idade, Bonfim, ao lado dos seus pais, mudou-se de Presidente Prudente após um acidente de carro em que seu pai e seu avô estavam. Seu avô veio a óbito e a família decidiu buscar novos horizontes num centro maior. Presidente Prudente foi a cidade escolhida.
Na nova cidade, Bonfim foi morar na Vila Furquim e seu pai havia conseguido emprego na Prefeitura como motorista. Estudou no Colégio Estadual “Tannel Abbud”, mas Bonfim, ainda menino, já tinha dom para o comércio. Com 10 anos, ajudava na horta de uma família de origem nipônica que havia nas proximidades de sua casa. Assim passou também a trabalhar na feira livre com seu vizinho “japonês”. Foram 05 anos, carregando caixas e vendendo verduras, de segunda a domingo. Quando precisou passar a estudar à noite, o “japonês” o orientou a buscar novos horizontes para não prejudicar suas atividades escolares, até porque não havia como registrá-lo como ajudante de feira.
Predestinado, Bonfim, após uma conversa com sua mãe, decidiu procurar outra ocupação. Viu que poderia trabalhar de empacotador nas Casas Moreira, mas a vaga que havia já tinha sido preenchida. Com sua mãe sempre ao seu lado, dirigiu-se então até as Malhas Catarinenses e, lá, falou com o proprietário, o senhor José. “Quando ele apertou minha mão para me cumprimentar, percebeu que eu tinha as mãos calejadas apesar da minha pouca idade, e me questionou sobre isso. Então respondi que era resultado do tempo em que trabalhava na feira. Ele gostou do meu jeito e me deu o emprego, foi o meu primeiro emprego”, conta. Nas Malhas Catarinenses Bonfim deixou a função de empacotador e passou a trabalhar um tempo depois como auxiliar de loja, justamente na época em que começou a servir o Tiro de Guerra.
Depois de deixar as Malhas Catarinenses, Bonfim foi contratado pela Editoy. Após 08 meses no novo emprego como vendedor, os proprietários queriam que ele fosse transferido para outra cidade. Bonfim achou que não seria uma boa e passou então a procurar outra ocupação, quando ficou sabendo que a Brasimac estava precisando de vendedor ao ler o anúncio num cartaz da loja. Fez a entrevista para o emprego e quem o entrevistou foi o Alain, filho do Dr. Ayres, com raízes em Presidente Venceslau. Foi aprovado e Bonfim iniciou uma nova jornada que foi decisiva para sua vinda definitiva a Presidente Venceslau.
Na Brasimac, Bonfim ganhou mais experiência como vendedor, mas também fazia outras funções. Ganhou a confiança de todos e se tornou importante colaborador da empresa. Como funcionário da Brasimac já namorava com a Célia, onde a conheceu num velório. Bonfim jogava futebol no time do Frigorífico Bordon/União de Presidente Epitácio. Na época uma das pessoas envolvidas com a equipe do Bordon havia falecido. Era o dia do aniversário de Prudente e Bonfim foi até Epitácio no velório e lá estava Célia, pois o falecido era bastante conhecido da família Carreira.
Célia, também ligada ao comércio, onde atuou por 21 anos na Casa Esporte, foi a escolhida por Bonfim para constituir família. Depois do noivado veio o casamento, e o presente que Bonfim recebeu da gerência da Brasimac foi a transferência para Presidente Venceslau. No fundo da casa dos pais da Célia, o novo casal construiu uma edícula e o casório se deu em 1990.
Célia, na Casa Esporte, e Bonfim na Brasimac. Mas Bonfim conta que foi na filial venceslauense que aprendeu, de fato, a ser vendedor. “O atendimento em Venceslau era mais no corpo a corpo”, lembra, ao citar situações em que ia na casa do cliente instalar videocassete ou mesmo orientar sobre o uso de um produto adquirido. Na loja de Prudente, segundo ele, tirava mais nota e não tinha tanta proximidade com o cliente. “Aqui, em Venceslau, aprendi a vender”, reforça.
Na época da Brasimac em Venceslau, o nome de Bonfim ganhou carinho das pessoas pela maneira como ele fazia o atendimento. Também, quando necessário, fazia às vezes de sub-gerente da loja na ausência do titular. Foi o período também que Bonfim intensificou seu envolvimento com a Igreja Católica, notadamente a Renovação Carismática, sendo ele uma das pessoas responsáveis pela vinda deste movimento que estava surgindo entre os católicos. Foi, através da Secretaria Matias, que cuidava da fé e política dentro da igreja, que Bonfim passou a ser indicado para se candidatar a uma vaga na Câmara de Presidente Venceslau. Depois de muita dúvida se aceitaria ou não, ele acabou sendo eleito na gestão Osvaldo Melo, cumprindo mandato de quatro anos.
Bonfim tentou a reeleição, mas ficou como 1º suplente. Relata que sua votação não diminuiu. O que diminuiu na época foram as cadeiras na Câmara, que passaram a ser 9 ao invés de 15. Bonfim, então, tomou outra decisão na sua vida. Prestou concurso para agente penitenciário, sendo aprovado. Assumiu para atuar na Penitenciária de Pacaembu, onde um tempo depois foi transferido para a P1 de Venceslau. Concomitante, ele e sua mulher decidiram abrir uma loja de 1,99. Assim nasceu a Esquina da Economia, ao alugar um imóvel exatamente na esquina defronte a praça da Santa Filomena. A loja, com 66 metros quadrados, em novembro de 2001, começou a funcionar. Logo, devido ao crescimento, Bonfim alugou o imóvel ao lado, totalizando 120 metros quadrados. A ampliação permitiu também que fossem agregados mais produtos e variedades no estoque.
Surgimento do Lojão
Os negócios estavam indo bem e ele não estava conseguindo conciliar seu emprego de ASP com a loja. Optou então em pedir exoneração e ficar apenas na loja. Através do seu cunhado Nilson Carreira (in memorian) tomou conhecimento que o imóvel onde funcionou o Supermercado Bom Preço iria a leilão. Não pensou duas vezes. Decidiu participar do leilão, realizado em 2009, onde conseguiu arrematar o salão e dois terrenos anexos ao imóvel. Assim nasceu o Lojão do Amigo Bonfim. Dois anos depois, usou um dos terrenos para ampliar a loja, sendo que o outro terreno virou estacionamento. Em fevereiro de 2011, Bonfim inaugurou a loja ampliada com estacionamento.
Hoje, em 2023, o Lojão do Amigo Bonfim é uma referência no comércio de Presidente Venceslau, sobretudo na região da cidade onde está instalado. Especializado em utilidades domésticas, o Lojão, na verdade, é quase um supermercado, com grande variedade de mercadorias, produtos para presentes, jardinagens, decoração, material escolar, alimentos, bebidas, brinquedos, roupas e confecções, chinelos, calçados etc.
Sobre o Lojão, Bonfim faz questão de destacar a qualidade dos produtos que comercializa, treinamento de equipe que é recorrente na loja, estacionamento próprio, investimento que faz em publicidade na mídia local e a presença de clientes de cidades da região. Para 2025, está projetando novidades, mas, por enquanto, é guardado a sete chaves. Além da mulher Célia, Bonfim tem o braço direito do seu filho Renan, que praticamente nasceu dentro da loja. Renan, agora, se dedica mais as atividades rurais no sítio da família, onde administra.
Covid e gratidão
No auge da pandemia de Covid-19, em dezembro de 2020, mesmo tomando todas as precauções, Bonfim acordou sem sentir o cheiro do perfume que comumente usa para ir à loja. Intrigado, decidiu fazer o teste por conta do olfato. O exame deu positivo e ele seguiu o protocolo após a ida ao Céu das Artes, local que a Prefeitura escolheu para os casos suspeitos de Covid-19, até então uma novidade para a medicina mundial. Lá, recebeu medicamentos prescritos e teve acompanhamento médico.
Com o passar dos dias, a tosse foi aumentando. A preocupação da família também. A sua saturação estava baixa e não estabilizava. O quadro piorou e, por orientação médica, procurou a Santa Casa. Havia apenas uma vaga na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e Bonfim precisou ser entubado. Após 30 dias praticamente sob efeito de sedação na UTI, muitas orações, rezas, manifestação de apoio à sua saúde por parte dos venceslauenses, membros de igrejas de todos os credos, conseguiu sair da entubação que perdurou por 19 dias. Com os 15 dias que ficou no quarto após deixar a UTI, foram 53 dias de internação na Santa Casa.
Devido ao tempo em que ficou no hospital, Bonfim foi acometido também por uma bactéria na região das costas, uma situação que quase o levou a óbito. Por consequência ficou com uma anemia muito grande em meio ao sofrimento de seus familiares.
Depois de deixar o hospital, permaneceu praticamente 10 meses em casa sem poder fazer o que mais gosta: ir para a loja e jogar futebol. Um período em que a Celia tinha que dar comida na boca dele por conta da fraqueza que sentia, além de intermináveis curativos devido a secreção nas costas causada pela bactéria. Foi preciso, inclusive, recorrer para secreção a vácuo. Lembra que foi um período que abalou muito seu emocional, mas conseguiu vencer a doença em definitivo.
“Estou vivo, não sou melhor que ninguém”, disse, ao lembrar de muitos que se foram e não tiveram a mesma sorte que teve ao sobreviver ao vírus da Covid-19. “Sou muito grato a Presidente Venceslau, por todas as orações que recebi, a todas a igrejas pela intercessão a minha pessoa”, enfatizou.
Ao final da entrevista, a meu pedido, deixou um mensagem por tudo que passou: “Sempre acreditar e colocar Deus na frente. O mais importante não é ter bem material, mas ter bom coração e não ter maldade. Não sou uma pessoa perfeita, tenho minhas falhas, mas hoje o mundo seria muito melhor se o próprio homem não tivesse maldade no seu coração. É acreditar sempre em Deus e colocar Ele na frente de tudo”.


