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Ela se enrolou em uma dívida milionária, limpou o nome e agora é educadora financeira: 'Renasci'

Com Terra

Foto: Arquivo Pessoal


Nem cartão de loja, nem consumismo generalizado. O que deu início à grande dívida de mais de R$ 1 milhão de Simone Sgarbi e sua família foi a falta de planejamento. Sem nenhuma reserva, ela se casou jovem, quis construir uma casa do zero à base do cheque especial, gostava de proporcionar momentos de lazer para os amigos e familiares e, também, dar confortos que não teve aos seus dois filhos. Isso aliado a uma empresa, na época, sem giro de capital que empacou a renda familiar e os fez contrair empréstimos que se transformaram em uma grande bola de neve de juros sob juros.


Após um choque de realidade, tudo mudou. Ela, seu esposo e seus filhos recalcularam a rota e, então, deixaram de trabalhar para pagar juros e voltaram a ter liberdade financeira. Agora, aos 50 anos de idade, Simone deixou o interior de São Paulo e se mudou para o litoral, em Ilhabela, tem uma empresa consolidada, se tornou educadora financeira e planeja lançar um livro para ajudar pessoas que lidam com problemas similares aos que tiraram sua paz por muitos anos. 


Falta de planejamento

"Me casei muito jovem, aos 23 anos, sem nenhuma poupança e nenhuma estrutura financeira – nem eu, nem meu marido. Eu tive minha primeira filha aos 21 anos e, aos 24, tivemos um menino. Eu sou formada em jornalismo e meu filho nasceu com um probleminha de saúde que fez com que a gente saísse da capital e se mudasse para o interior de São Paulo. Trabalhei em jornais e revistas locais. Foi nessa época que me endividei."


"A gente só casou e, aí, apareceram contas para pagar. ‘O que a gente faz agora?’. Foi bem assim. Compramos um terreno e construímos a casa na base do cheque especial e do cartão de crédito."

"Cada um com seu trabalho, com o que a gente ganhava dava para pagar as contas do dia a dia. Mas a família foi crescendo, as contas foram aumentando e a gente não soube, lá no comecinho, se organizar para começar a vida organizada.

Percebo que essa história se repete muito. "


Gastos com ‘experiências’

"Construímos uma casa maravilhosa e recebíamos a família inteira todo final de semana para fazer churrasco. Então tínhamos um custo de vida nas alturas, reunindo pessoas, que é o que a gente gosta."


"Como os dois trabalhavam e tínhamos uma boa renda, também tínhamos crédito. E vivíamos a base disso. Se no fim do mês não dava, pagávamos o mínimo. A gente dava um jeito."


"No dia que eu recebi o salário, eu já não tinha mais salário. Ele caía e já ia direto para os juros do banco. Então, no primeiro dia do mês, eu já estava devendo."


"Além disso, a gente colocou nossos filhos na melhor escola da cidade. Era aquilo de querer proporcionar tudo de melhor pra eles, coisas que a gente não teve. Mas eram experiências, não coisas. A gente nem viajava para o exterior, nem nada."


‘Virou filme de terror’

"Foram dois momentos que fizeram a situação virar um filme de terror. O meu marido tem uma empresa de tecnologia - na época, ele tinha outros sócios e eles não tinham muito capital de giro. Então, se um cliente atrasava, eles tinham que tirar do bolso para pagar os funcionários."


"Então, a vida jurídica começou a atrapalhar a vida física, começamos a não ter salário. Nessa época eu comecei a trabalhar com comunicação com eles, para ajudar. Então parte do meu salário também vinha dessa empresa."


"Começamos a não conseguir mais cobrir a nossa vida física, porque os salários atrasavam. A dívida maior foi se criando com os bancos."


‘Virada de chave’

"A grande virada de chave aconteceu quando meu pai se acidentou. Ele caiu da escada, quebrou a perna e descobrimos que ele não tinha mais assistência médica. Ele não tinha contado pra gente. "

"Então, levamos ele para o Sistema Único de Saúde (SUS). Agradeço muito, a cirurgia do meu pai foi maravilhosa. Mas, quando chegamos lá, tivemos que ficar dois dias no corredor com ele, aguardando em uma maca que brigamos para arrumar um colchão. "


"A mudança não foi por um banco me cobrando, não. Porque o banco me cobrando, eu sabia que eu ia negociar e que eu ia pagar. Mas foi perceber que eu não tinha condições de ajudar as pessoas que eu amo."


"Quando meu pai foi pra casa, fui para o banho chorando e falando para mim que nunca mais passaria por isso. Mexeu muito comigo."


Após superar a dívida e alcançar a sonhada independência financeira, Simone começou a compartilhar dicas de finanças nas redes sociais e ajudar outras pessoas


Recomeço

"O primeiro passo foi levantar todas as dívidas – o primeiro momento desesperador da reeducação financeira. Liguei para todos os credores. "


"Fui estudar pela internet, com influenciadores, lendo artigos do site da Anbima, do Banco Central… Fui descobrindo como eu matava essa dívida. Liguei em todos os bancos e fiz as perguntas: Qual era a dívida inicial? Qual era o valor hoje? Qual era a taxa de juros? Quanto eu já tinha pagado?"


"Então, eu fiz uma coisa que eu não recomendo que as pessoas façam. Como eu já estava com o nome negativado, eu parei de pagar todo mundo para primeiro organizar o meu custo de vida real."


"Pensar em quanto eu precisava para comer, para morar, para vestir… E, a partir disso, reduzi meu custo de vida em 40%. Mudei de bairro, tirei meu filho da ‘melhor escola’, mudei o tipo de alimentação, mudei tudo. A gente brincava que saia só se fosse na’ catraca livre’, de graça."


"Eu tive coragem de me expor para todo mundo também que a fonte secou. Reunimos toda a família e falamos que a partir daquele dia todas as questões financeiras da casa vão ser conversadas com todos juntos."


"Todos também começaram a fazer trabalhos para ter renda extra. Foi uma época que a gente só trabalhou."


"Dentro da empresa, reorganizamos os setores, reavaliamos a dinâmica e isso fez com que a gente triplicasse o quanto a gente ganhava em um ano, só de colocar as pessoas nos lugares certos. A gente também parou de ter custos que eram desnecessários."

Última dívida paga

"Eu lembro que foi em um dia 26 de dezembro quando pagamos o último boleto, em um banco lá na Avenida Paulista. Era uma dívida com um banco de pessoas jurídicas, físicas já estavam todas pagas. Foi há cerca de 10 anos, um boleto de R$ 35 mil. No momento, tive a sensação de renascer."


"Porque, a partir daquele momento, o meu dinheiro era meu, não era mais do banco. A sensação que eu tinha é que eu trabalhava só para o banco. Eu trabalhava só para pagar juros, eu não trabalhava para mim."


"Combinou desde aquele momento que nunca mais a gente ia chegar nesse ponto. Que a gente reduzia nosso padrão de vida e aumentava o volume de trabalho, mas a gente não ia mais pegar empréstimo. "


Missão

"Eu tinha um Instagram fechado só para amigos, nunca fui uma pessoa pública. Não sou ainda, sou tímida. Mas eu comecei a fazer vários cursos e um dos professores falou que eu precisava contar essa história para o mundo, porque tem gente que fica muito desesperado e acha que não vai sair da dívida e acaba desistindo. Abri meu Instagram nesse dia."


"Comecei a aparecer mais e, quando eu vi, já tinham umas 20 mil pessoas lá. Então, eu comecei a pensar o que eu iria fazer para toda essa gente. Como eu já tinha me organizado financeiramente, decidi me dedicar um pouquinho ao perfil, para ajudar mesmo. Como foi na pandemia, com tudo meio parado, consegui focar nisso."

"Eu sei a importância disso, eu sei que salva a vida de outros também. Então, sempre que tiver ao meu alcance, eu vou sempre responder.  Eu sou jornalista por profissão, educadora financeira por missão. Percebi que não ia mudar o mundo sendo jornalista, mas hoje eu mudo alguns mundos sendo educadora financeira."

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