
Desde o fim da União Soviética, em 1991, a tal da “guerra fria” parecia ter sido extirpada. Ledo engano.
Vamos aos fatos.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial, em 1945, a geopolítica foi estabelecida por duas forças mundiais: a URSS (União das Repúblicas Soviéticas Socialistas), resultado da consolidação do poder dos bolcheviques sobre o território do antigo império russo; e os Estados Unidos, cujo poderio bélico foi decisivo para o fim do conflito mundial.
Após a Segunda Guerra Mundial, preocupados com o crescimento bélico da URSS, os EUA e 11 países da Europa Ocidental criaram a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em 1949. O objetivo era conter o avanço da URSS e com o compromisso de defender mutualmente em caso de ataque armado contra qualquer um deles.
Em contrapartida, em 1955, surgiu o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar assinada em Varsóvia, na Polônia, entre a União Soviética e sete outras repúblicas socialistas do Bloco Oriental da Europa Central e Oriental, durante a Guerra Fria.
O Pacto de Varsóvia foi o complemento militar do Conselho para Assistência Econômica Mútua (CoMEcon), a organização econômica regional dos estados socialistas europeus. O acordo foi criado em reação à integração da Alemanha Ocidental na OTAN em 1955, conforme as Conferências de Londres e Paris, de 1954.
Pois bem. O Pacto de Varsóvia de um lado, controlado pela URSS, e a OTAN do outro, controlada pelos Estados Unidos, fomentou a Guerra Fria.
Em meados dos anos 80, a URSS, mergulhada numa crise social e econômica, sob o governo Gorbachev, estabeleceu a Perestroika e a Glasnost, que permitiram abertura econômica e política com a liberalização do comércio exterior, os preços, a moeda, a eliminação dos limites de fabricação de produtos, a redução de subsídios à economia e a autorização de importação de produtos estrangeiros, o que levou a uma variação extrema de diversos fatores econômicos, que se fizeram sentir por todo o país.
A partir da Perestroika/Glasnost e o fim da URSS, em 1991, cada uma das ex-repúblicas soviéticas pôde seguir seu caminho, dissolvendo o Pacto de Varsóvia. A Rússia, por outro lado, agravada pela crise social, reduziu seu poder bélico, sem deixar de exercer certa influência política nas ex-repúblicas da URSS, entre as quais, a Ucrânia.
Se por um lado o Pacto de Varsóvia não tinha mais razão de existir, por outro a OTAN, aos poucos, foi incorporando novos membros, entre os quais, ex-repúblicas soviéticas, como a Estônia, Lituânia e Letônia.
A Ucrânia é atualmente um “país-associado” à OTAN, o que significa que pode vir a se unir à organização no futuro.
Para o governo russo, a inclusão de seus vizinhos na aliança é uma tentativa dos americanos e das potências europeias de cercar seu território, o que configuraria uma ameaça à Rússia. Já para os EUA e seus aliados é a chamada política de detenção da Rússia, com óbvios dividendos políticos.
Todas as tentativas de evitar a invasão na Ucrânia pela Rússia acabaram sendo frustradas. Agora, o mundo assiste atônito a escalada bélica russa sobre a Ucrânia, cujas consequências são imprevisíveis.
ão se esqueçamos que, anos atrás, o governo pró-Rússia na Ucrânia foi destituído sob influência dos EUA, colocando no poder um ex-comediante como presidente, que flerta com os ditames do governo Biden e da União Europeia.
“O que está em causa são interesses, negócios, acesso aos bens que a terra nos oferece, uma luta entre oligarquias e plutocracias, umas mais bem disfarçadas que outras, pela influência sobre governos, instituições nacionais e internacionais, conglomerados econômicos e financeiros. As pessoas são meros instrumentos neste tabuleiro. É a sociopatia à solta, animada pela anarquia neoliberal que é determinante mesmo onde não é seguida segundo as plenas convicções fundamentalistas e ortodoxas”, sustenta José Goulão, jornalista e escritor português.