
Imagino que os percussores da verdadeira música sertaneja ou de raiz devem estranhar ainda mais essa nova versão, denominada sertanejo universitário.
Assim como estranharam quando, nos anos 70, assistiram o surgimento do sertanejo romântico, com letras que tinham foco urbano, com descrição de cenas de paixão, traição, ciúmes etc.
Viu que o menino da porteira teve de dar lugar ao fio de cabelo no paletó. Percebeu que a chalana não rasgava mais o rio e descobriu que cantar “É o amor” garantia mais audiência para o bolso da indústria cultural.
Com o êxodo rural, o caipira deixou de morar na roça, foi pra cidade, instalou-se na periferia, via TV e comprava em loja de shopping center. Isso explica, em parte, a mudança do sertanejo que virou urbano.
A primeira dupla a mostrar a nova cara foi parar no Japão. Milionário e José Rico venderam milhões de disco, alcançaram o sucesso rapidamente explorando o sertanejo “dor de corno”, substituindo a tradicional viola por guitarra, metais e teclado.
Depois, apareceram duplas mais espojadas, bonitas do ponto de vista estético para o público feminino. Sem perder a apelação romântica, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, depois Zezé di Camargo e Luciano, Bruno e Marrone, entre outras duplas, dominavam os espaços nas rádios e TVs, eram cortejadas em programas de auditório e vendiam discos e shows a todo instante.
Até que, no final dos anos 90 e início do novo milênio, uma dupla pantaneira começou a dar o tom de um novo movimento que passou a surgir no cenário sertanejo. Os irmãos João Bosco e Vinícius, oriundos de Campo Grande (MS), passaram a cantar em barzinhos universitários da capital sulmatogrossense. Nascia, então, o sertanejo universitário, fazendo um ritmo mais acelerado e letras também românticas, porém da maneira como os jovens veem os assuntos de poligamia, traição, ostentação e vida urbana.
Bem diferente dos tempos da cabocla Tereza, que vivia no alto da montanha, numa casinha de sapê, os apreciadores do gênero sertanejo universitário vivem em ambientes refrigerados, andam de carro do ano, tomam cerveja em lojas de conveniência e apreciam tererê nas esquinas.
Insuflam o som dos seus carros potentes com repertório que se repete a cada canção, quer na melodia, quer nas letras. Um gênero musical que marca uma geração que cresceu e cresce em meio a onda cibernética, geração essa que desconhece um lampião de gás, chaleira, ferro de passar roupa a carvão.
Definitivamente, o sertão mudou de lugar.