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Em Pauta: Pelé, o Eterno


Virei torcedor do Santos influenciado pelo pai (in memorian) que, vindo do Líbano para o Brasil em meados dos anos 50, encantou-se com Pelé. Com radinho de pilha na mão, meu saudoso pai vivenciou os tempos áureos de Pelé e cia. E, eu, compactuei e segui a mesma sina.


Era um tempo em que a televisão quase não transmitia jogos ao vivo. Talvez, por isso, herdei do meu pai o gosto pelo rádio e, assim como ele, também vibrava com os gols de Pelé na minha tenra infância aqui em Presidente Venceslau.


Lembro-me perfeitamente a narração do jogo em que Pelé marcou seu milésimo gol, na fatídica cobrança de pênalti contra o Vasco, no Maracanã. Tinha 9 anos na época e comemorei como se fosse uma decisão de campeonato. Era um simples amistoso e o nosso Rei do Futebol, após superar Andrada, o goleiro vascaíno, foi ovacionado e cercado por jornalistas, ocasião em que pediu atenção às crianças brasileiras, em pleno período militar no comando do país.


Assisti Pelé jogar uma única vez. Foi em 1968, se minha memória estiver certa. O Santos veio enfrentar a equipe da Prudentina, pelo Campeonato Paulista. Curioso é que não assisti o jogo no acanhado estádio da Prudentina, mas, sim, da janela do sobradinho de um tio, irmão da minha saudosa mãe. A janela de um dos quartos do sobrado dava de frente para o campo.


Desde então, a paixão pelo Santos, sobretudo por Pelé, foi aflorando.


Na Copa de 70, a TV chegou em casa. As imagens eram em preto e branco. Assisti a todos os jogos. A vizinhança que não tinha TV assistia na sala da minha casa e aplaudia com as jogadas de Pelé, incluindo aquele lance que o Rei quase marcou gol sem tocar na bola diante do goleiro uruguaio, Mazurkiewicz. Depois dos jogos íamos para rua comemorar. Lembro-me que quando íamos jogar no campinho de terra ao lado da minha casa todos queriam ser Pelé. Tempo de criança.


Outro momento marcante para mim foi a despedida do Rei com a camisa do Santos, contra a Ponte Preta, na Vila Belmiro, assim como quando se despediu da seleção brasileira, em 1971, em jogo no Maracanã diante de 138.575 pessoas, no amistoso contra a Iugoslávia.


Acho que o futebol tem duas eras: antes de Pelé e depois de Pelé. Poderia dizer que Pelé inventou o futebol que se joga hoje, por sua genialidade, jogadas, dribles desconcertantes, força física, visão e, sobretudo, inteligência.


Pelé encerrou sua carreira no extinto Cosmos, de Nova York. Sua paragem na terra do Tio Sam ascendeu e estimulou a prática do futebol por lá. Pelé era cidadão do mundo e por onde passava tinha o respeito e admiração. Aliás, muitos povos, inclusive as nações africanas, faziam referência ao Brasil na figura de Pelé, a ponto de parar uma guerra no Congo.


O cidadão Edson Arantes do Nascimento, com todos os seus defeitos e polêmicas ao longo de sua vida terrena, revestiu-se de uma grande importância ao país e ao mundo. Vejo agora, após sua morte, declarações elogiosas de seu caráter e sua humildade para com todos a sua volta.


O Edson, nascido em Três Corações (MG), que iniciou no futebol no BAC (Bauru Atlético Clube), e que prometeu ao seu pai, Dondinho, que ganharia uma Copa do Mundo para o Brasil, depois que o viu chorar na derrota da seleção na Copa de 1950, virou Pelé por circunstância. Nos tempos de menino em Bauru gostava de ver jogar um goleiro chamado Belé. Daí, quando gritava Belé a cada defesa, seus amigos o apelidaram de Pelé.


O Edson se foi, mas o Pelé ficará eterno em nossos corações. Fico triste ao saber que jogadores renomados do Brasil não se fizeram presentes no velório.


O futebol dos tempos de Pelé era mais gostoso. Hoje, a ganância e o individualismo tomou conta. Talvez, por isso, o Brasil tem sucumbido a cada Copa do Mundo.







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