
Aquele chiadinho tão peculiar nos discos de vinil deixou saudade, pelo menos para mim. Sem querer comparar qualidade de som com a era digital, mas os discos de vinil têm um charme que desperta um olhar diferente para o artista e compositor.
Constitui marca de um trabalho minucioso, cirúrgico, feito com detalhes, para a posteridade.
Hoje se grava uma música em home-estúdio, em pouco tempo, com inserção na mesma hora nas plataformas digitais, via EP. E ter um home-estúdio ficou fácil, basta um bom programa de gravação no computador, uma placa de som de boa qualidade, um microfone com condensador e uma mesa de som com alguns canais.
Músicos, para que músicos? Existem “samples”, sons de instrumentos que fazem acompanhamento, seja que ritmo for, timbre, sonoridade, bastando apenas que se domine o programa e que tenha um mínimo de conhecimento musical.
A tecnologia cada vez mais substitui o homem e, assim, cada vez menos temos gente tocando e mais botões e cliques sendo utilizados. Mesmo quem não cante bem, desafine, consegue se lançar no mercado. Só vamos perceber a qualidade quando escutamos ao vivo. Mesmo assim, com os vários recursos, a percepção é restrita aos que conhecem do riscado.
Voltando aos discos de vinil, veio na minha lembrança de mocidade o Zé Carioca, uma loja que comercializava os lançamentos em Venceslau, principalmente nos anos 70. Quando chegava algum vinil, a funcionária da loja tinha o cuidado de retirar da capa para que pudéssemos ouvir as músicas antes de efetuar a compra. Havia a delicadeza para não riscar, recolocar no lugar, enfim, o disco voltava para prateleira, caso não houvesse a compra.
Uma época em que Roberto Carlos lançava a cada Natal um novo vinil. Era presente certo para o namorado, a esposa, o amigo, o parente. Por outro lado, as rádios faziam merchandising que ajudava nas vendas e divulgação do novo trabalho.
Confesso, não era muito fã do Rei. Preferia Chico, Caetano, Gil, Milton, Djavan, João Bosco, Elis, entre outras feras da MPB que faziam nossa cabeça na época, mas que também tinham muito mercado.
Com advento da era digital e suas plataformas, os vinis praticamente ficaram restritos aos colecionadores, sendo encontrados apenas em lojas especializadas, principalmente nos grandes centros do país.
Recordo-me que uma rádio local, nos anos 90, se desfez de toda discoteca de vinil, que era considerada uma das mais completas do interior. O acervo foi arrematado por um preço vil. Houve na época quem reclamasse, mas o proprietário não se importou, desfez da coleção e entregou ao comprador.
Ainda tenho muita curiosidade em saber que fim esses discos tiveram.
O que a juventude de hoje acharia sobre os discos de vinil? Teria paciência de tirar da capa, cuidado com a agulha para não riscar e recoloca-lo novamente no lugar?
Creio que não. Mas quem viveu a era dos vinis, por certo sabe do que estou falando...A saudade mata gente... a saudade é dor pungente.