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Festas Juninas


O isolamento social imposto pela pandemia do covid 19 me fez hoje, ao olhar para o calendário e ver que estamos em pleno mês de junho, no início do inverno, lembrar do passado e das festas juninas que ocorriam neste período. E que festas! No dia 13, dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro, as mocinhas casadoiras faziam suas promessas, suas orações e suas “simpatias” para que o bom santo as atendesse e arrumasse um excelente marido que fosse trabalhador, bom pai e companheiro perfeito; não pelo casamento mas minha mãezinha era devota de Santo Antônio e apelava em suas orações para sua ajuda e sua benção. Tenho meu irmão que recebeu o apelido de Toninho por causa desta devoção. No dia 24 homenageávamos São João, dia das grandes fogueiras e no dia 29 era a vez de enaltecer São Pedro que tem as chaves do céu. Era um tempo muito simples e a fraternidade se fazia presente em todos os lares, em todos os corações.


Quando pequenino via papai chegar em casa com os fogos de artifício: fósforos de cor, chuvas de estrelas, rojões que no espaço se transformavam em cascatas de luzes. Nos quintais vizinhos o ruído das pessoas e as fogueiras embalavam as noites que na época eram bem frias. Mamãe preparava milho cozido, pipoca e batata doce e os amigos se aproximavam alegres e sorridentes para o congraçamento. Maiores um pouquinho chegamos à época das bombinhas e dos “busca pés” para assustar as meninas e em volta das fogueiras a sanfona embalava as festa com as músicas juninas: “São João, São João acende a fogueira em meu coração”!


Era a época das quermesses. Ah! As quermesses! Vestidos de “caipiras”, as meninas com vestidos de chita, íamos todos, os velhos e os jovens, para a festa que normalmente era promovida pela paróquia. Frango assado, leitoa, bolo de milho, pé de moleque, leilão para ajudar as missões, tudo valia a pena! Jovens, era o momento do “correio elegante” que através de uma atendente ou mesmo de uma pessoa amiga enviávamos para aquela que era a dona de nossa atenção as vezes anonimamente e as vezes nos identificando principalmente se já ocorria um flerte. E mandávamos prender na “cadeia” as moças bonitas para depois termos o prazer de pagar uns trocados para libertá-las. Opa! Vai começar a quadrilha! O acordeão já emite os primeiros sons e o condutor já forma os casais para o início da dança. E é uma grande festa! Os dançarinos formam fila indiana, vão e vem de mãos dadas, passam por baixo de braços estendidos e seguem as ordens do condutor com enorme alarido. A noite segue tranquila e amena e cada um traz no coração a alegria de se viver em comunidade. O vinho quente está presente na festa mas o grande protagonista é o “quentão” feito com pinga, cravo, canela e gengibre. Quente, combate o frio e aquece os corações...


O tempo passou e hoje quase não vemos mais estas festas. Os jovens do “pancadão” e das baladas não se interessam mais pela “quadrilha” e o correio elegante foi substituído pelo “Instagram” e pelo” waths”, os idosos preferem ficar em casa na televisão de alta resolução e a solidão, mesmo sem pandemia, parece ser a tônica de nossas vidas. Não há mais fogos de artificio, nem fogueiras, nem balões no céu. As meninas não precisam mais de Santo Antônio e o quentão foi trocado pela vodca e pelo narguilé. Resta a saudade de um tempo em que os valores da família eram cultivados por todos e a fraternidade era lugar comum. Em homenagem a este tempo vou fazer um quentão. Servido?


(*) O autor é médico e membro da Academia Venceslauense de Letras

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