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Filhos e mães: vínculos

Atualizado: 21 de jun.



Ouvi há pouco tempo uma “nova” explicação sobre a música infantil “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada…”, cuja letra é de Vinícius de Moraes, de que a casa “sem paredes” e “sem teto”, na verdade seria a representação do útero materno. Belíssima e significativa metáfora! Aguçou-me a imaginação e ampliando a literariedade e a licença poética, pus-me a pensar na inquestionável importância do corpo materno, comumente chamado “mamãe”, em nossa vida intra e extrauterina.


Enquanto feto temos um ambiente preparado com exclusividade para o conforto e desenvolvimento: um tecido acolchoado de sangue, células e outros nutrientes que acolhem e alimentam o novo ser que está em formação. Não sei se pode ser considerado, exatamente, uma casa, mas a similaridade com um berço me parece plausível.


Depois que nascemos, continuamos necessitando de acolhimento e afeto, do que dependerá nossa vida razoavelmente saudável física e emocionalmente. O ser humano que disponibilizou seu âmago para gerar um filho, dando-o à luz, vai disponibilizar, também, seus braços que se assemelham a uma rede onde o novo ser vai dormir e repousar; disponibilizará seu seio e seiva para alimentar o fruto de seu amor; utilizará  cantigas de ninar,  singelas e afetivas, que oxigenam os sentidos e sedimentam os conceitos básicos de sobrevivência do neófito; oferece o colo onde o serzinho passará parte da infância enquanto fortalece suas destreinadas perninhas e, ainda, desfruta, suavemente, da tepidez do contato e do aconchego de sua generosa mãezinha.


Passado um pouco mais de tempo, o fruto humano cresce e se desenvolve e a “matriz” continua a exercer sua nobre função: enquanto a criança passa a andar ereta e treinando sua altivez, a mãe de verdade dobra sua coluna para  aproximar o rosto  e o coração do rebento amado para se fazer sentir e entender melhor.


O filho comumente, fala cedo e muito; observa tudo e analisa; entende e se posiciona; erra e acerta, como qualquer ser humano. Embora ultrapassada em termos de modernidades ou pela somatória da idade, a genitora sempre saberá o que e como falar. Diálogos, exemplos, reveses, paciências, impaciências, desinteligências, apegos e desapegos, tudo vai calando no cerne do fruto do ventre e de um coração “que não se esconde”.


Permitindo Deus e o contexto social, chegará o momento em que as posições se inverterão. Os cuidados, os braços protetores, as advertências, o carinho, o toque, o colo, percorrerão caminho inverso: da alma filial para a alma materna.


Quisera Deus que, invariavelmente, todas as mães trilhem esse caminho: primeiramente acolher, dar, ofertar, cuidar, mimar, amar, orientar, amparar para depois ter o merecido retorno, e assim se cumprir o círculo da vida, para que o princípio, meio e fim não se alterem e nenhuma mãe precise chorar perdas, as mais variadas, em relação aos filhos. Que a temperança sempre se sobreponha aos erros e o amor consiga suavizar todos os embates.


Que todas as famílias, minimamente, entendam e interiorizem seus papéis e funções, e que o amor seja nuclear e determinante na formação de seres humanos melhores. E por inabalável convicção, acredito que então o mundo poderá ser melhor e nós, todos nós, mais felizes.


“O vínculo entre mãe e filho não termina na hora do parto. O cordão umbilical é cortado na hora do nascimento, mas a conexão entre mãe e filho perdura por toda a vida, além da vida, por toda a eternidade.” (Edna Frigato)


(*) Aldora Maia Veríssimo – Presidente da AVL

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