
Nunca fui um craque de bola. Pelo contrário, sempre fui um jogador muito ruim, um verdadeiro perna de pau. Nas peladas que ocorriam nos terrenos baldios perto de casa ou nos campinhos do clube era um dos últimos a ser escolhido e, na maior parte das vezes, me mandavam jogar no gol. Mas embora muito ruim sempre gostei do esporte bretão e, se não fui bom futebolista, torcedor fui ótimo. E desde menino corintiano...Explico porque: em Prudente meu pai era médico do corintinha e eu o acompanhava nos jogos no campo que se situava nos altos da Felicio Tarabay onde hoje está instalado um “Shopping”. Sabia a escalação do time de cor e, até hoje, tenho na memória o nome de vários craques como o goleiro Acosta, os beques Cotia e Bertamin e o atacante Robertinho. Quando mudamos para Presidente Venceslau, eu com 9 anos, encontramos aqui outro Corinthians e, embora achasse linda a camisa Alviceleste da Associação Atlética Venceslauense, continuei corintiano. Ia ao campo ver jogar o Teco, o Baianinho, o Careca e o Guilherme Caravante. Chegou o momento de me preparar para a faculdade e fui morar na casa de meus avós paternos em Campinas. Lá não havia Corinthians mas existia um alvinegro que era a Ponte Preta e, evidentemente, me tornei um pontepretano assistindo aos jogos da “macaca” sempre que os estudos permitiam. Ao entrar na faculdade em Curitiba não encontrei nenhum time alvinegro e comecei a torcer pelo Athletico Paranaense porque não queria ficar longe do futebol e ia à arena da baixada que era bem perto de onde eu morava para ver o “furacão” jogar. Portanto, como podem ver, sempre fui um aficionado ao futebol.
O grande escritor e cronista Nelson Rodrigues escreveu que o Brasil era a pátria de chuteiras e, isto ficou marcado no nosso subconsciente coletivo o que nos levou a considerarmos que somos os melhores do mundo. Será? Quando tinha 9 anos o Brasil ganhou sua primeira copa e eu assisti meu pai, ouvindo as ondas curtas de seu rádio, vibrar com os gols da seleção na vitória sobre a Suécia; em 1962 ali na praça Nicolino Rondó, que tinha um serviço de auto falante que funcionava todos os dias, ouvimos o bicampeonato de nossa seleção; depois, em 1970, participamos de uma grande festa no centro de Curitiba na comemoração do tricampeonato. E foi assim... Sempre vibrando com nossa seleção.
Amadurecemos e hoje sabemos que as coisas não são bem como queremos. O nosso futebol encontra muitas dificuldades e não pode mais ser considerado o melhor do universo. Na Europa assistimos um futebol muito mais evoluído e moderno mas ainda guardamos conosco a ginga e a malemolência típica de nosso país. E a paixão continua cada vez nos envolvendo mais. Hoje este esporte movimenta verdadeiras fortunas e é um meio de alavanca social que traz oportunidades únicas a muitos meninos, e agora também meninas, das nossas periferias e do nosso interior. Mais do que isto, é escola de cidadania e formação do caráter e da personalidade de muitos e muitos jovens.
E, acredito, você vai concordar comigo: muito bom assistir um joguinho no domingo à tarde e poder, no outro dia, “zoar” com nossos amigos cujas equipes foram derrotadas. Pois como disse o mesmo Nelson Rodrigues “o homem não é totalmente adulto pois no futebol será sempre um menino”.
(*) O autor é médico e membro da Academia Venceslauense de Letras