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Gratidão

Os seres humanos, para nós cristãos, foram criados à imagem e semelhança de Deus que ainda lhes deu o livre arbítrio para escolherem e optarem por suas vidas, por seus destinos. Assim acumulamos em nossos espíritos, em nossas almas, grandes defeitos e muitas virtudes que moldam nosso caráter. Todos somos assim. Não há ninguém puro. Pecamos e nos arrependemos (ou não) e durante toda nossa existência buscamos o caminho certo para nossa redenção!


Entre os enormes defeitos (ou pecados) quero citar, por exemplo, o orgulho, o preconceito, a intolerância, a avareza, a inveja e o ódio, a ira. Em algum momento de nossas vidas estes defeitos afloraram e nos tornaram, de alguma forma, menores, insignificantes... Já sentimos orgulho desmesurado por uma conquista sem pensar que nosso semelhante poderia estar sofrendo com isto, fomos muitas vezes intolerantes com uma criança, com um idoso ou mesmo com um ente querido, sentimos sim inveja quando alguém conseguiu algo que buscávamos ou sonhávamos, e, preconceituosos, quantas vezes nos afastamos de pessoas por serem diferentes de nós ou daquilo que achamos correto. Quase nunca aceitamos o diferente e temos verdadeiro rancor e ódio por aqueles que, até por gestos, não são como nós. Pior, ostentamos tudo isto como se fosse característica virtuosa em nossas vidas e, nesta crença dormimos o tal “sono dos justos”. Aliás, a ostentação também é defeito contumaz em nossas existências.


Temos sim virtudes evidentemente! O trabalho, a honestidade, a educação, o respeito (hoje raro) são virtudes que alguns ou muitos de nós temos. Lógico que, na verdade, tudo isto poderia ser considerado como dever da cidadania mas, no mundo em que vivemos, vamos rotular como virtudes. Trabalhar, ganhar o pão com honestidade, respeitar o próximo nos fazem melhores na comunidade e com nós mesmos!


Há no entanto uma virtude essencial que é hoje uma raridade. Falo da gratidão. Aquela que surge em nosso coração quando nos fazem algum bem. Aquela que demonstra em nós uma outra importante virtude, a humildade! Aquela que demonstra ao nosso semelhante o quanto o amamos! Aquela que dignifica o próximo, que o realiza, o faz viver melhor! Infelizmente esta virtude quase não existe na atualidade. Você cede o seu lugar para uma senhora no coletivo e ela nem sequer lhe dá um sorriso. Você atende com educação e delicadeza uma pessoa e o “obrigado” que seria tão bom para iluminar o seu viver não vem. E pela manhã, ao acordar, pensamos logo nas atribulações do dia sem repararmos na beleza do alvorecer e sem agradecer a Deus pelo presente que estamos recebendo. Afinal mais um dia com saúde é uma dádiva do Pai.


Assim, neste momento em que vivenciamos a tão pouco tempo o pesadelo de uma pandemia avassaladora que tirou de nós pessoas queridas e que mostrou a cada um como somos insignificantes, que a gratidão possa brotar em nossos corações e que , humildemente, possamos agradecer àqueles que nos deram a vida, aos que nos ensinaram as primeiras letras, aos que dividiram conosco seus sonhos e suas existências, aos que nos deram colo em nossos infortúnios e, principalmente, a Deus que nos dá saúde, disposição, esperança, coragem e fé , que nos dá o sol e seu calor, a noite para o descanso e a certeza de que está a zelar por nós sempre e eternamente.


(*) O autor é médico e membro da Academia Venceslauense de Letras

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