Eu mudei ou mudaram os outros? Mudei eu ou mudou a humanidade?
Já passei dos 70 anos. Mais longeva que minha amada mãezinha. Sou virginiana; não acredito nas previsões dos signos, mas presto atenção nas características das pessoas.
Calma, comedida, estudiosa, atenta, observadora, detalhista, crítica, calada, fui educada a não falar se não tivesse algo de qualidade a dizer, que não acrescentasse nada a quem ouvisse. Potencializada, talvez, essa atitude por minha profissão/vocação: magistério.
Entendo que minha longevidade seja responsável pelo “agravamento” de minhas características. Cada vez mais observadora e ácida, exercito minha crítica a cada mínima oportunidade. Meu mais constante interlocutor é meu marido, companheiro da vida toda, que concorda com a maioria das minhas observações e posicionamentos.
Tenho me percebido cada vez mais intolerante, por que não dizer angustiada, com os bastidores que possam estar fomentando falas e ações da maioria das pessoas: comentários desagradáveis, sexualidade exposta minuciosamente, a mais valia de que tudo pode e ninguém tem nada com isso, a crueldade que mesmo despercebida por quem a exerce não deixa de ferir e fazer sangrar o alvo por longo tempo, a autoestima exacerbada que ultrapassa as fronteiras do bom senso, ofende, incomoda e fere ouvidos e inteligência alheia pelo despreparo e falta de limites.
As melodias já não emocionam mais, as letras menosprezam as mulheres, os sentimentos são banalizados e barateados, os relacionamentos amorosos perderam o encanto e a importância pois já não necessitam de respeito, fidelidade, carinho, cumplicidade e sequer pressupõem continuidade e futuro. Famílias com diferentes estruturas caracterizam-se por uma rotatividade que prima pela promiscuidade e insegurança. E os filhos, pequenos ou adolescentes, transitam nesse espaço, no qual, na maioria as vezes, a violência e a indiferença imperam. E então reclamamos do comportamento dos jovens!!!
A educação, pressionada pelo sistema e por questões socioeconômicas, vai “derretendo” a tão necessária qualidade, já que ser culto e graduado ou pós-graduado não significam chances de vencer na vida.
E a violência social/urbana que nos é imposta, cotidianamente, assusta, atemoriza, desestimula, adoece e paralisa. E os desequilíbrios emocionais engrossam filas de atendimento em consultórios de psicólogos e psiquiatras e possibilitam o acesso a tranquilizantes e ansiolíticos que promovem, salvo cuidados maiores, indivíduos desprovidos de vontade e senso crítico oportunos. E, consequência disso, quem não toma um “tarja preta” nos dias atuais?
A violência dentro dos lares é um capítulo que merece uma séria campanha de conscientização, já que mulheres e filhos são, em regra, as maiores vítimas. Parece de nada adiantarem as denúncias e as medidas protetivas; na esteira dos demais temas, esse também é ignorado pelos envolvidos, sejam vítimas, agressores ou autoridades.
Sou. Alguma dúvida? Sou conservadora antes mesmo e a despeito da conotação política, que esse vocábulo acumulou nos últimos tempos.
Sou conservadora porque sou contrária a essa extensa lista de fatos já mencionados. Sou conservadora porque acredito na família, seja qual for o modelo, cujo valor maior seja o amor, acredito no acolhimento dos filhos, biológicos ou não, na educação que preserva valores, respeito, solidariedade, companheirismo, cuidados básicos físicos e mentais, na convivência saudável entre as pessoas, na preservação das instituições que são pilares de uma sociedade minimamente respeitosa.
E a política? Apesar de minha longevidade, minhas 05 décadas de magistério, minha observação da evolução/involução da sociedade, não creio estar apta a discutir tal tema sem ultrapassar os limites do bom senso e controlar os batimentos cardíacos. Afinal, sou idosinha e preciso me cuidar!
Aldora Maia Veríssimo – Presidente da AVL
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