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Mulheres transformam cama em estúdio e lançam seus próprios podcasts

Com UOL

Foto: Reprodução/Instagram


Na era dos podcasts, uma tendência está se consolidando: a de programas produzidos diretamente do quarto, às vezes sem sair da cama, e que alcançam milhares de ouvintes e figuram nas paradas de sucesso - superando até gigantes da mídia como a Globo e a Amazon, ou queridinhos da internet como os Estúdios Flow e o Jovem Nerd.


É próximo aos lençóis que surge uma conversa mais próxima, entre a produtora de conteúdo (mulheres, em sua maioria das vezes) e o público (também majoritariamente feminino). Da solidão do cômodo pintam as verdades mais duras ou as maiores confissões, criando a conexão com as ouvintes.


"Como eu consumo podcast há muito tempo, eu comecei a perceber que quando entra uma vinheta, entra uma coisa muito super produzida, você se desconecta um pouco dessa ilusão de que você tá num café com uma amiga", contextualiza Lela Brandão, podcaster que vem puxando essa vertente no Brasil.


Lela é a responsável pelo "Gostosas Também Choram", que alcançou impressionantes marca de 4,1 milhões de reproduções, com uma média de 190 mil streams por episódios. A produção conta com uma equipe de quatro pessoas: a própria Lela, além de uma editora, uma designer e uma animadora - as três últimas como freelancers.


Nos EUA, Emma Chamberlain é tida como a grande precursora da tendência. O programa "Anything Goes", lançado em 2019, tem como grande formato o fato de não ter um formato: quase sempre traz a apresentadora sozinha contando suas experiências pessoais, passagens da vida e filosofias. Às vezes, tem alguma convidada. "É uma troca muito mais íntima", explica Camila Justo, Head de Podcasts do Spotify aqui no Brasil. A plataforma de áudio está surfando nesse boom, inclusive destacando programas em playlists no streaming. "A gente chama essa trend [tendência] de 'Ombro Amigo'".


Dá para definir quase como um "anti-mesacast", modelo do Flow e do Podpah, muitas vezes gravados em estúdios e em vídeo. Não deixa de ser um retorno ao passado da internet, quando tudo era mato - e produzido de forma menos ditada pela estética do "alto padrão de qualidade". Foi assim que a Jout Jout fez sucesso no YouTube, por exemplo. Também funcionam como um contraponto às redes de vídeos curtos, como TikTok e o Instagram: saem de cena as mensagens em menos de um minuto, entram conversas mais soltas.


Muitas adotaram a fórmula. Uma delas é Luana Carvalho, que no final de março lançou o "Bom Mesmo É Ser Emocionada". Tudo é gravado diretamente da cama da podcaster, de onde alcança mais de 2 mil ouvintes por episódio. A produção e texto ficam com a apresentadora, enquanto a edição do áudio é tocada pelo marido. "Eu pesquisei para ver se eu conseguiria fazer em casa, porque eu queria justamente me afastar dessa coisa de estúdio", relata Luana. "Queria mais me aproximar desse formato como se eu tivesse numa conversa com as pessoas que estão me ouvindo".


Negócio 360

Lela Brandão integra seu programa a uma estratégia 360. Trechos são compartilhados nas redes sociais da criadora de conteúdo em formato de cortes. Ela destaca que é uma via de mão dupla: também convida as ouvintes para acompanhá-la em outras redes.


"Foi muito legal a conversa porque elas queriam falar de saúde mental, por ser o Dia Mundial da Saúde, e queriam fazer um episódio sobre isso". Essa primeira ação teve um alcance total - entre o programa, cortes e outros conteúdos nas redes sociais - de mais de 1 milhão de pessoas, afirma Lela. "Um sucesso".


Luana Carvalho é outra que aposta na estratégia circular para o seu programa. Além do streaming de áudio, ela está presente (e fazendo publicidade) no Instagram (130 mil seguidores), TikTok (45 mil) e X (o antigo Twitter, onde tem 49 mil seguidores).


Ela conta que também já tem propostas de "publi", como essas ações são chamadas. "Não imaginava que com tão pouco tempo isso estaria acontecendo, que ganharia a visibilidade para ser notada, de verem o meu podcast como um potencial lugar para divulgarem [seus produtos]".


A sinceridade é o mais importante

Por ser uma produção simples, quem está de fora pode pensar que é fácil iniciar um programa de áudio do tipo. Não é bem assim: é preciso ter algo a dizer.


"Primeiro você precisa encontrar o que você quer falar, antes de qualquer investimento. Essas meninas sentiram essa necessidade de falar sobre temas que geram algum tipo de angústia, ou temas que atravessavam a vida delas", dá a dica Camila Justo, do Spotify. A executiva ainda diz que, caso o criador de conteúdo já tenha uma audiência formada em outra rede, é importante trazer os mesmos temas para o formato em áudio. Para quem está começando do zero, "encontre o que você gosta, o que você tem realmente curiosidade de se aprofundar, de pesquisar mais. Essa é a primeira etapa".


Depois, ache o lugar ideal para gravar. "Você não quer que seja uma captação ruim, cheia de ruído, mas a gente tem fones com microfones maravilhosos, é só encontrar um lugar mais silencioso da sua casa", diz Camila. O cenário de fundo pode ser composto por objetos pessoais - ou não ter nada.


A edição pode ser feita por meio de ferramentas gratuitas na internet, como o Audacity ou o próprio Spotify for Podcasters - este último fazendo a hospedagem e a distribuição do programa na maioria das plataformas de áudio, inclusive nas concorrentes como Deezer, Amazon Music e Apple Podcasts. "No meu primeiro episódio identifico erros que no sexto não tem. [...] Tem coisas que eu já melhorei", define Luana Carvalho. "A gente precisa ter um pouquinho de coragem para fazer as coisas que a gente acredita".


E é assim, com a coragem de soltar a voz para compartilhar suas inseguranças, conquistas e pensamentos, que essas mulheres fazem frente aos gigantes da produção de conteúdo.

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