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O Segundo Mandamento


Ligo a televisão e, estarrecido, assisto cenas da guerra na Ucrânia. Edifícios destruídos, incêndios por toda parte, corpos de pessoas espalhados pelas ruas. Uma barbárie. Estamos no século 21 e me parece inconcebível que tamanha demonstração de horror possa estar ocorrendo, agora pelo avanço tecnológico, pela informática e pela modernidade da mídia, exatamente dentro de minha sala ao lado de meus quadros, livros e orquídeas. Com o “controle’ na mão mudo o canal e, então, assusto ao ver um assalto na grande cidade e uma senhora sendo arrastada pelas ruas presa ao cinto de segurança do carro enquanto os bandidos fogem. Ontem, horrorizado mais uma vez, assisto a notícia de que uma menina de 12 anos foi estuprada e morta, com requintes de maldade, pelo próprio padrasto que acompanhou seu crescimento até a puberdade. Desligo a televisão e vou aos livros procurando algo que me acalme o coração. Ali encontro livros de todos os tipos e, entre eles, vejo que há séculos o ser humano convive com a barbárie. No Egito antigo crianças eram queimadas vivas em cultos de homenagem a Osíris, Atila, o rei dos Hunos, dominava as estepes da Mongólia trucidando seus algozes, estuprando suas mulheres e matando suas crianças e na Roma antiga os centuriões cometiam enormes torturas contra seus inimigos e escravos. Ali há dois mil anos atrás crucificaram o filho de Deus, Jesus, que exatamente pregava o amor ao próximo. Os cristãos naquela época eram torturados e mortos...


Chegamos à Idade Média e a igreja católica que havia conquistado enorme poder e era tida como a religião dominante exercia atividades de barbáries. O livro sobre as inquisições que tenho agora nas mãos me conta de maneira insofismável e terrível sobre as fogueiras que queimavam vivos aqueles que pensavam de forma diferente do catolicismo, aqueles que possuíam novas ideias sobre o evoluir da vida ou, simplesmente, aqueles que por algum motivo não agradassem os poderosos religiosos da época. Chegamos ao século 20 e um paranoico em surto de loucura mata milhões de judeus sob a justificativa de manter incólume a sua raça, segundo ele, superior. E pasmem! Os vencedores da segunda guerra não tiveram o menor problema de consciência ao jogarem uma bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki ceifando a vida, com enorme sofrimento, de milhares de pessoas. Agora a violência faz parte do nosso cotidiano e parece que estamos cada vez mais insensíveis a ela. O idoso caído na calçada com a cabeça sangrando após o assalto quase não sensibiliza ninguém mais e, apenas de forma tímida, dizemos que a vida está impossível de ser vivida. Alguns são favoráveis à pena de morte enfrentando a violência com mais violência. Certo! E os mandamentos que deveriam reger nossas vidas como ficam? Amar a Deus sobre todas as coisas e ao seu próximo como a ti mesmo este é o ensinamento de Deus e precisamos urgentemente colocá-lo em prática se quisermos gerações melhores no futuro. Cabe a cada um de nós esta atividade de transmitir amor, compreensão e paz. Só assim será possível cumprir o segundo mandamento. Só assim nós, os humanos, estaremos à imagem e semelhança do Pai.


(*) O autor é médico e membro da Academia Venceslauense de Letras

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