Uso começou com gambiarras de comerciantes pedindo ajuda a pessoas com contas no Brasil. Agora, há empresas criando soluções para pagamentos instantâneos com QR Code. - Com G1
Sistema brasileiro de pagamentos, o PIX vem ganhando espaço no comércio argentino como alternativa ao dinheiro em espécie — Foto: Agustin Marcarian/Reuters
"Loucura é você entrar na loja da Cachafaz, em Buenos Aires, do lado do estádio do Boca Juniors, e a moça te falar em portunhol melhor que o seu: "Aceitamos PIX'", relatou em fevereiro deste ano um usuário no Twitter.
A chegada do PIX no país foi mesmo no improviso. Uma reportagem da BBC, de julho, mostrou que uma vendedora argentina de Puerto Iguazú chegou a pedir ajuda a um amigo com conta no Brasil para conseguir receber o dinheiro de um cliente.
A mesma reportagem relatou ainda que, em outros locais da cidade, comerciantes usam o PIX por meio de contas de familiares e de sócios brasileiros.
Como o processamento do PIX e a conversão de pesos ou dólar em real acontecem no Brasil, o cliente brasileiro paga uma taxa de IOF de 0,38%, que incide sobre as operações cambiais no país.
O IOF é o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários. Para cada modalidade, há uma taxa diferente. Para compras internacionais no cartão de crédito, por exemplo, o percentual é maior, de 5,38%, atualmente.
Toda essa gambiarra de comerciantes argentinos faz sentido, já que os brasileiros são o terceiro maior grupo de turistas na Argentina, depois de uruguaios e chilenos.
E o turismo na região tem sido atrativo diante da forte desvalorização do peso argentino em relação às moedas de países vizinhos e ao dólar, principalmente após a vitória do candidato de extrema direita Javier Milei, nas prévias das eleições presidenciais.
PIX com QR Code
O uso do PIX no país hermano pode ser, em muitos casos, no improviso, mas, desde junho de 2023, há empresas ofertando soluções para lojas argentinas conseguirem disponibilizar o meio de pagamento.
Uma delas é a KamiPay, fintech argentina de pagamentos digitais que lançou uma plataforma com este intuito.
Funciona semelhante ao Brasil: o cliente escaneia, com o seu celular, um QR Code disponibilizado por um aplicativo, e o lojista, por sua vez, recebe o pagamento na hora. O valor é debitado em reais na conta do cliente brasileiro, enquanto o comerciante argentino recebe em pesos ou em dólar digital.
É o que explica Matias Gorganchian, um dos fundadores da KamiPay. "O dólar digital é uma moeda denominada em dólar que é enviada através de blockchain. Esse dólar digital pode ser trocado na hora por moeda local e depositado em qualquer banco da Argentina", conta.
No caso da KamiPay, o processamento do PIX e a conversão de pesos ou dólar em real também ocorrem no Brasil.
Por isso, os clientes também pagam a taxa de IOF de 0,38%, que incide sobre as operações cambiais.
Mais empresas de olho no mercado
Mas não tem só essa plataforma de olho no mercado argentino. Em junho, a empresa americana Fiserv também divulgou um comunicado informando a criação de uma solução de pagamento via QR Code.
E explicou que o valor a ser pago também é convertido em reais no momento da compra, "evitando riscos de variações cambiais".
O g1 procurou a Fiserv para saber mais detalhes, mas a companhia informou que não concederia entrevista por falta de agenda.
O g1 também entrou em contato com o Banco Central do Brasil, que criou o PIX, para saber se o órgão também tem o intuito de exportar essa tecnologia para a Argentina. A autarquia não respondeu até a última atualização desta reportagem.
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