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Quanto vale a vida?

Atualizado: 6 de out. de 2023


Olho para a tela do ultrassom e vejo a imagem que eu queria ardentemente ver. Maria me procurou desesperada no inicio da tarde. Gestante com cerca de 7 semanas de repente havia perdido sangue e, embora sem dor, ficou apavorada. Maria queria muito o seu bebê. A imagem na tela me mostra no interior do útero o saco gestacional perfeito e em seu interior um embrião com cerca de apenas 1 centímetro, mas com o coraçãozinho batendo firmemente. Maria chora emocionadamente ouvindo a frequência cardíaca do embrião e me diz que se chamará José se for menino e Maria se for menina porque é um filho muito esperado e amado. O coração, batendo, nos mostra que aquele “serzinho” já é ser humano como nós e, portanto, merece nosso amor e nosso carinho. A gravidez evolui muito bem e após os nove meses nasce uma linda menina que faz transbordar de alegria toda a família.


Josefa já não teve a mesma sorte. Após uma infecção urinária perde sangue e os exames revelam que ocorreu um aborto espontâneo. O pequeno ser já não vive mais. O seu choro é tão intenso e sua dor tão profunda que nos emociona a todos e, embora com 50 anos de experiência vivenciando todos os dias esta situação, acabamos nos entristecendo e lágrimas furtivas molham nossos olhos. Era o sonho, a esperança e a realização de uma família que a vida, naquele momento, não pode realizar...


Ana também tem a sua história. Há muitos anos engravidou solteira e sua família, para não passar vergonha na pequena cidade onde morava, envidou esforços para que a menina abortasse. Mas Ana resistiu e após os período gestacional deu à luz um menino que chamou João. Depois se casou e teve mais três filhos que cresceram ao seu redor ao contrário do primeiro que foi criado por uma tia. Hoje no abrigo de velhos Ana recebe toda semana a visita do filho João que a chama de mãezinha e faz tudo por ela abarrotando seu coração de muito amor que a faz continuar viva! Os outros filhos, muito ocupados, quase nunca a visitam.


Poderia escrever aqui milhares de páginas sobre muitos dramas que ocorrem cotidianamente no que diz respeito ao aborto, mas sinto que basta algumas palavras para traduzir o que penso : o aborto é o assassinato de um ser humano! Como cristão considero um pecado inominável, imperdoável. Vivemos um mundo moderno onde, dizem, cada um tem a liberdade de fazer o que quiser com seu corpo, com sua vida. Será?


O código penal brasileiro em seu artigo 128 estabelece que o aborto será legal se a gestação for devida a estupro ou se for realizado para salvar a vida da paciente em eminente risco de morte. Hoje também se autoriza a interrupção de fetos anencefálicos portanto incompatíveis com a vida.


Agora vejo uma ministra do STF pugnando para que o aborto seja autorizado para gestações de até 12 semanas dependendo da vontade materna. Estarrecedor! Notamos nos dias de hoje as tentativas para o desmantelamento da família, a mídia moderna nos deixa cada vez mais isolados, nossos jovens já não são preparados para a convivência social, aumentam os suicídios e os quadros depressivos, querem liberar as drogas e, agora, o assassínio de seres humanos indefesos pode se tornar apenas uma decisão legal.


O que nos resta é orar muito e pedir ao Deus, Nosso Pai, que conceda a salvação a nossas futuras gerações.


(*) O autor é médico e membro da Academia Venceslauense de Letras

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