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Travessia


A dona Maria (que poderia ser Aparecida, Sonia, Lourdes ou qualquer outra)está chorosa e deprimida. Aos 47 anos passa por um momento na vida que nós médicos conhecemos como peri menopausa e que ocorre a partir dos 42 anos e pode se estender até os 55 anos. Todos sabem que a quarta década da vida traz para a mulher junto com a falência ovariana a diminuição de seus hormônios sexuais e este fato traz para a imensa maioria alterações orgânicas que acontecem na área ginecológica, na vasomotora, na cognição e na área emocional. No que diz respeito à parte ginecológica a mulher começa a apresentar irregularidades menstruais que podem ser falta, atraso ou excesso da menstruação, secura da mucosa vaginal e portanto dificuldade nas relações sexuais caracterizada por dor à penetração e falta de orgasmo; na área vasomotora a falta do estrógeno - mais importante hormônio feminino - provoca sintomas muito característicos e intensos que incomodam muito e diminuem a qualidade de vida da mulher: fogachos ou ondas de calor principalmente na face e no busto, períodos de sensação de frio e sudorese noturna. Na cognição a diminuição dos hormônios traz dificuldades de raciocínio e memória.


Mas o que considero de mais importante em todo este processo de Peri menopausa é o quadro depressivo que acomete a grande maioria das mulheres desta faixa etária. Também associada à diminuição do estrogênio na verdade a depressão tem em seu escopo outros componentes como, por exemplo, os fatores genéticos e familiares, os traumas ocorridos na formação daquela personalidade e que compõem o complexo espectro psicossocial daquela mulher. Assim, a perda da importância exercida no seio da família já que os filhos, adultos, já bateram asas e se foram e os episódios rotineiros de ausência do marido que prefere o futebol da TV a tal “discussão da relação” tão ansiosamente desejada pela parceira traz à mulher o que chamamos de “síndrome do ninho vazio” que se traduz por sentimento de menos valia e conseqüente depressão. Também o espaço ocioso que muitas vezes a aposentadoria traz colabora para que o sentimento de inutilidade aumente e,como na área sexual os desejos e ritmos diminuíram, esta sensação se transforma numa melancolia que acaba extravasando para quadro de depressão clássica. Evidentemente os sintomas psíquicos climatéricos apresentam ampla variação dependendo de grupos étnicos, de grupos socioeconômicos e sociais, alem dos aspectos educacionais. Assim, a Peri menopausa é um período de grande vulnerabilidade para estes transtornos e os sintomas depressivos que incluem a irritabilidade, o choro fácil, o humor lábil, a ansiedade, a perda de energia ou ânimo, a diminuição da atenção e a insônia comprometem e muito a qualidade de vida das mulheres.


O tratamento evidentemente inclui de forma expressiva a terapia de reposição hormonal que bem realizada por médico especialista traz enormes benefícios. Mas muitas vezes há necessidade de se usar também antidepressivos dos mais variados tipos e , mais do que isto, é essencial que a mulher seja motivada a participar ativamente da vida social e de atividades físicas para que possa se sentir valorizada e com vontade para viver. Afinal esta “travessia’ do estado de vida produtiva para a senectude deve ser a mais leve possível para o bem estar deste ser maravilhoso que é a mulher!


(*) O autor é médico e membro da Academia Venceslauense de Letras

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