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São João

Atualizado: 28 de jun. de 2023



Nesta sexta e sábado, véspera e dia de São João, saí pelas ruas da cidade em busca de eventos ou festas que me falassem a respeito deste santo. Nada encontrei. Fiz então um regresso ao meu tempo de menino e, como num filme ou sonho, me recordei das festas juninas da minha infância. Eram maravilhosas! Junho naquela época era um mês frio e, a começar de Santo Antônio, o santo casamenteiro, dia 13 e até dia 29, dia de São Pedro, todas as noites, invariavelmente, tínhamos festas, quermesses e fogueiras que se espalhavam pelas igrejas, capelas, escolas, sítios e quintais das nossas casas. A confraternização era enorme. As famílias se reuniam nas calçadas em volta de mesas e bandejas com bolo de fubá, pipoca, amendoim torrado, batata doce assada, pamonha, milho verde e muitas historias para contar. As crianças ganhavam fósforos de cor e os jovens soltavam “chuvas de prata”, rojões e pulavam a fogueira com cuidado para não se queimar. Nas quermesses o leiloeiro com sua voz de tenor vendia os leitões, os frangos e os cabritos assados e deliciosos para angariar fundos e o bingo corria solto até a meia noite com o cantador das pedras a dizer: -olha o 22 , dois patinhos na lagoa,33 “ idade de Cristo”, 1 -começou o jogo- quem está na boa? E todo mundo ria e se divertia. De súbito a sanfona começava a tocar e num instante os pares estavam formados para a”quadrilha”que empolgava a todos. Ali começavam muitos namoros que formaram muitas famílias tradicionais de nossa comunidade e que possivelmente se iniciaram com um - correio elegante - enviado de forma semi sigilosa pelo interessado. E o quentão? Nossa! Que delicia! Feito com pinga boa, gengibre, agua e cravo, servia para combater o frio e dar ânimo aos adultos. Vestidos rodados e caipiras, botina, chapéu de palha, camisa xadrez eram indumentárias que não podiam faltar mas o mais importante era a alegria que a todos envolvia. O mês de Junho “voava” e o seu ápice era a noite de São João que coroava as festas com enorme sucesso.


O tempo passou, a vida, célere, foi se modificando e hoje as festas comunitárias como as de Junho quase não existem mais. Obvio que ainda temos alguns resquícios do passado, mas a empolgação, a alegria e o congraçamento quase não existem. Estamos no século da internet, das mídias, das “smart tvs” e da solidão... Resta para os mais velhos a lembrança do passado que talvez não fosse tão moderno e progressista como hoje, mas com certeza, era muito mais fraterno e amigo. A fogueira de São João ainda aquece nossos corações e nossos sentimentos de amor ao próximo ainda estão presentes em nossas almas e nossas vidas!


(*) O autor é médico e membro da Academia Venceslauense de Letras

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