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Torto Arado

Atualizado: 21 de jun. de 2023



Romance brasileiro, publicado em 2019, escrito pelo autor baiano Itamar Vieira Junior, foi o grande destaque da Literatura Nacional no ano de 2020; vencedor dos prêmios mais reconhecidos e cobiçados no cenário literário nacional: o “Prêmio Jabuti” e o “Prêmio Oceanos”.


A história, “Torto Arado”, se passa no interior do sertão brasileiro, na Chapada Diamantina, fazenda Água Negra. Conta a história da família de Zeca Chapéu Grande, um líder religioso e curandeiro, que mistura religiosidade e crenças populares, e Salustiana, uma pegadora de crianças (parteira).


O destaque da história são as filhas Bibiana e Belonísia, irmãs que, ainda crianças, se envolvem em uma tragédia, em que curiosas, encontram uma misteriosa faca da avó Donana, escondida e enrolada em um pano dentro de uma velha mala debaixo da cama. Fascinadas pela beleza e brilho, colocam a faca na boca que ao ser retirada rapidamente, provoca a perda da língua de uma delas.


Essa tragédia aproxima as irmãs de tal maneira que uma se torna a voz da outra: a que fala reproduz as ideias da irmã atingida. Essa  perfeita interação de comunicação e dependência, metaforicamente, representa  a união que é a base da comunidade que habita essa região. A estratégia narrativa construída pelo autor consegue não revelar de imediato qual das duas irmãs perdeu a língua; essa descoberta é percebida aos poucos, o que provoca um prazer inaudito no leitor.


A comunidade de Água Negra é formada por negros que, apesar da extinção da escravidão, continuam em regime análogo, em que podem ocupar espaço na fazenda, construir sua casa de barro, para não demarcar permanência, plantar sua roça, desde que cumpram seu horário de trabalho nas roças do proprietário. Mesmo os produtos que plantam são divididos com o patrão. E os demais víveres necessários são oriundos do armazém do proprietário, provocando dívidas que nunca acabam.


Bibiana, uma das irmãs, casa-se e abandona a região em que vive em busca de uma vida melhor. Isso provoca uma reviravolta na vida da irmã que perdeu a língua, pois perde sua conexão com o mundo.  Belonísia permanece na fazenda, vive com um homem, por algum tempo, constrói sua casinha, faz sua plantação e sobrevive tornando-se figura influente no contexto local.


Após um tempo, Bibiana retorna à terra natal com sua família, tornou-se professora e a região passa a ser palco da luta pela terra e por melhores condições de vida, encabeçadas por ela e o marido.


A história de “Torto Arado” é rica em tradição cultural do sertão brasileiro, onde se misturam crenças, lendas, religião, seca, sofrimento, violência, gratidão, escravidão, ancestralidade e, principalmente, amor pela terra. Cada parte da história é narrada por uma personagem feminina, demonstrando o protagonismo feminino construído em torno de mulheres fortes.


Com uma linguagem simples e saborosa, o autor nos apresenta o jarê, uma mistura de religiosidade e crenças populares, típico da Chapada Diamantina. Zeca Chapéu Grande é um curador das dores físicas e mentais, utilizando-se dos saberes da terra e de seus “encantados” (entidades místicas), mostrando práticas de saúde em comunidades sem acesso à medicina tradicional.


A par disso, o autor apresenta ainda a temática do trabalho rural infantil não remunerado e o trabalho adulto com vínculos escravagistas, inclusive com entraves à aposentadoria. Enfim, é um livro imperdível em termos de informações sobre o sertão brasileiro, uma rica visão de tradições genuinamente brasileiras que muitos desconhecem. É um livro que podemos qualificar como atemporal. Uma narrativa muito bem construída, linguagem simples e direta, texto que flui, leitura que não admite interrupção até o último parágrafo.


Discuti-lo no Clube de Leitura da AVL enriquece nosso repertório pelas diferentes visões e aspectos que tocam a cada um diferentemente. Acertadamente, válidos e variados pontos de vista, como sói ocorrer entre mentes singulares. Vamos agora à leitura de “O olho mais azul” da escritora Toni Morrison.


(*) Aldora Maia Veríssimo – Presidente da AVL

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