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Amor digital


Ely liga o “note” e vai direto para o “Tinder”. Ao abrir o programa já vê a foto da menina com quem falara ontem. Bonita, sorridente, com um perfil muito especial: advogada, 29 anos, bilíngue, viajada, leitora voraz... Perfil que lhe agradou de imediato; ele um médico setentão solitário após a viuvez necessitando com urgência de uma companhia e ela, solteira, querendo viver um grande amor! A diferença de idade poderia ser um obstáculo, mas naquele momento o doutor sequer pensava neste pequeno detalhe. No mundo digital parece que a nossa idade não importa muito e nem mesmo nossa imagem, pois nada que um “photoshop” não possa melhorar!


Ely já tentara antes algum namoro digital. Certa vez se encantara com uma balzaquiana e marcara um encontro com ela; no dia marcado se aprontara com esmero e, passando em uma floricultura, comprara linda orquídea para presentear a mulher. Esperou durante horas no restaurante combinado, consumiu quase um litro de “Balantines” e ela não apareceu...No dia seguinte deu a flor para a faxineira.


Acredito que os “sites” de encontros e namoros podem eventualmente funcionar. Já vi alguns casos. São esporádicos. Na maior parte das vezes as frustações acontecem e os envolvidos amargam as decepções decorrentes de um relacionamento extremamente diáfano e virtual. Desta vez com Ely tudo parecia correr muito bem! Pelo menos, embora ainda não tivessem se encontrado, já se envolviam com sussurros e ais que preenchiam suas noites de amor.


Encontro marcado e lá se foi Ely para ver a amada virtual. Desta vez não levou flores. E nem esperou muito. Após meia hora no local do encontro sem que a garota aparecesse voltou para casa. Estava tranquilo. Afinal o amor não era virtual? Continuaria então digital...


(*) O autor é médico e membro da Academia Venceslauense de Letras

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