Além do fornecimento de nutrientes necessários para síntese de neurotransmissores e função neural adequada, a dieta também é capaz de modular o estresse oxidativo, inflamação e disfunção mitocondrial, vias comumente alteradas nos distúrbios psiquiátricos Uma metanalise (n=45.826) revelou que intervenções nutricionais, de modo geral, tiveram efeito significativo na redução dos sintomas depressivos. As dietas variaram de 10 dias a 3 anos e tinham em comum a redução de gordura, principalmente saturada, açúcar, ultraprocessado, carne vermelha e gordura animal (priorizando peixe) e o aumento de frutas, vegetais e grãos integrais. Na análise de subgrupo, o resultado foi significativo para estudos que tinham perda de peso como objetivo primário, acompanhamento com nutricionista ou >75% de participantes mulheres. O efeito significativo das intervenções dietéticas nos sintomas depressivos (incluindo em estudos de alta qualidade) sugere fortemente que a dieta pode auxiliar no tratamento dos sintomas da depressão. Em concordância, um ensaio clínico randomizado (SMILES; 166 pacientes com depressão diagnosticada) revelou que o aconselhamento dietético levou a uma melhora significativamente maior na escala de depressão validada, quando comparado ao controle (Effect size=-1,16). A remissão da depressão foi alcançada por 32,3% (n=10) do grupo intervenção (versus 2 do controle; p=0,028). A intervenção era composta por 7 consultas individuais com nutricionista e o controle por sessões de apoio social de mesma duração. Esses efeitos foram independentes de alterações no IMC, enquanto mudanças na qualidade da dieta se correlacionaram fortemente com mudanças nos sintomas depressivos, mostrando que a relação entre dieta e depressão vai além da alteração do peso corporal. O estudo ainda revelou que a dieta de intervenção era mais barata que a habitual (baseline). Cabe ressaltar que os estudos não compararam intervenções dietéticas com medicamentos, portanto, a nutrição deve ser considerada como parte de um tratamento multiprofissional.
