top of page
Buscar

Fragmentos


Você que é venceslauense e ama a sua terra, você que, embora não o seja, veio para cá há muitos anos, aqui construiu sua família e sua vida ou mesmo você que nada tenha a ver com esta cidade mas ama uma boa literatura não pode deixar de ler o livro “Fragmentos” da professora, poetisa e grande escritora Arthuzina de Oliveira D’Incao que com maravilhosa sensibilidade nos mergulha na história de nossa Presidente Venceslau e nos emociona a cada página de sua bela obra.


Arthuzina nasceu na cidade de Taubaté a 3 de Junho de 1917, filha de pais comerciantes mineiros e cultos, formou-se na Escola Normal de Taubaté em 1935 e no ano seguinte, com 18 anos, foi nomeada pelo governo para lecionar na escola da serraria Aimoré na longínqua cidade de Presidente Venceslau cujo mapa pictórico do estado representava a nossa terra com um índio ao lado de um bandeirante armado próximos a uma fogueira espreitados por uma onça na mata. A menina, na flor da idade, que aqui chegou foi uma das professoras pioneiras que aqui se estabeleceram e construiu a sua história de vida com luta, dedicação, trabalho e amor que a transformaram em uma das maiores expressões na área da educação de nossa terra e, através da literatura, numa das mais expressivas escritoras da nossa cidade. A escritora casou-se em 1938 com Mânlio D’Incao, filho de imigrantes italianos que já residiam aqui desde 1922, teve 4 filhos e aqui residiu, convivendo conosco, até o final de sua vida.


Mas vamos ao livro! “Fragmentos” é um verdadeiro vira páginas. Como bem o disse o acadêmico Raymundo Farias de Oliveira “é livro para se ler de uma sentada”. Envolvente, com episódios curtos, extremamente bem escrito, o livro nos faz viver o alvorecer de nossa cidade: os primeiros médicos, a primeira advogada doutora Isabel de Campos, o padre que vinha de Santo Anastácio esporadicamente para rezar uma missa, o professor Adamastor de Carvalho e os primeiros passos da educação em Venceslau; nos faz “ver” os cafezais, os algodoais, as primeiras estradas, verdadeiras picadas, o areal que tomava conta das nossas ruas, a casa do doutor Álvaro Coelho onde se realizavam grandes bailes e que existe até hoje atrás da igreja de Santo Antônio, o quartel da cavalaria depois transformado em nossa primeira penitenciária e, enfim, a vida citadina que era difícil e que exigia atitudes corajosas daqueles que aqui se estabeleciam para construir o que somos hoje. Nos conta, em suas páginas, sobre a epidemia de febre amarela, sobre a desnutrição infantil, sobre a morte prematura de tantas pessoas, mostrando uma visão social que nos envolve. Mas também nos conta fatos pitorescos como a história do peão cleptomaníaco ou da Martinha que, ao ganhar um vestido novo da patroa, fugiu com o Chicão, seu amor. O capítulo que trata das diversões em Presidente Venceslau nos fala da estação do trem que acolhia em sua gare toda a sociedade local que ia ver a chegada e a partida das locomotivas que traziam notícias da cidade grande, novos cidadãos e portanto novas esperanças; nos fala dos bailes filantrópicos que também congregavam toda a sociedade e no “Dia da Raça” festa em Junho organizada pela numerosa colônia portuguesa e que era famosa pelos maravilhosos fogos de artifício. Na religiosidade ficamos sabendo da capela de São Francisco de Paula, primeiro padroeiro desta urbe, que proporcionou até um momento hilário já que estando na igrejinha do lado de cá da linha foi transportado para a capela além linha férrea de madrugada. Aliás, a rivalidade entre os dois lados da linha era terrível segundo nos conta.


Poesia, lições de vida, momentos lindos, festivos e tristes, escritos de uma maneira ímpar faz de “Fragmentos” um livro fundamental a ser lido.


Em uma pequena cidade como a nossa, uma das raras do interior que conta com uma Academia de Letras, que tem entre cidadãos ótimos escritores, sem sombra de dúvidas, Arthuzina de Oliveira D’incao, cidadã, mãe, mestra, poetisa, se destaca como um dos maiores expoentes!


Este livro precisa ser lido por todos nós.


(*) O autor é médico e membro da Academia Venceslauense de Letras

bottom of page