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Futebol


No futebol sempre fui um verdadeiro “perna de pau”. Nossa! Não conseguia conduzir a bola e tinha enormes dificuldades para o chute; quando formávamos um time para a “pelada” em um terreno baldio próximo de casa eu era o último a ser escolhido pelos garotos líderes da turma e era designado para jogar no gol ou ficar isolado lá perto da área do adversário. Servia bastante para ir buscar a bola quando era chutada para o mato. Mas, apesar disto, sempre fui apaixonado pelo esporte bretão e sempre acompanhei meus times de coração e, de maneira especial, a nossa seleção. Assim, tive o privilégio de viver os cinco títulos mundiais que o Brasil conquistou. Em 1958 tinha 9 anos de idade e morava em Presidente Prudente, papai tinha uma grande vitrola na sala de estar e ali “pegava” o rádio em ondas curtas onde ouvíamos os jogos da seleção lá na longínqua Suécia. Óbvio que, muitas vezes, o som desaparecia e o chiado era constante mas vibramos com nossa seleção e com o gol do menino Pelé que, junto com os outros craques, nos deu o primeiro título mundial. Em 1962, já morando em Presidente Venceslau, ouvimos pelo autofalante da ZYH 7 instalado na praça Nicolino Rondó os jogos da seleção no Chile e o bicampeonato foi comemorado com enorme regozijo por todos em plena praça pública. Naquela época era senso comum que o Brasil era o melhor do mundo e os outros países, principalmente os europeus, eram enormes “pernas duras” e, portanto, nossos fregueses.


Chegou o ano de 1970 e, eu já na faculdade de medicina, assisti os jogos (alguns deles) pela TV em preto e branco na casa de alguns amigos. O título foi comemorado pelas ruas de Curitiba em verdadeiro carnaval fora de época e todo mundo vibrava com Pele, Jairzinho, Gerson e companhia. Esquecíamos as enormes dificuldades pelas quais o país passava, a ditadura militar que começava a dar sinais palpáveis de grande truculência e vibrávamos com o tri campeonato lembrando a frase célebre de Nelson Rodrigues: “o Brasil é o país de chuteiras”. O regime de exceção usou aquela conquista para trazer a todos o sentimento de ufanismo nunca visto e a frase “Brasil ame-o ou deixe-o” virou lugar comum em todos os lugares.


Os anos passaram céleres e conquistamos ainda mais 2 títulos mundiais que nos trouxeram muitas emoções. Sem dúvida a nossa seleção ainda é a que conquistou mais títulos nessas 22 edições da copa do mundo e neste evento que ocorre agora nenhuma seleção pode nos alcançar afinal Alemanha e Itália estão fora. No entanto, embora torcendo muito, não estou otimista para a conquista do hexa campeonato desta vez. Mais do que isto, não vejo nas pessoas que me rodeiam a mesma vibração do passado. A equipe parece não mostrar aquela disposição, aquela gana, em levantar a taça e, como vivemos, a meu ver, momento extremamente delicado na vida e na política nacional quando nós, cidadãos comuns, não sabemos para onde vai nossa pátria, fica o sentimento profundo e incontornável de que a copa do mundo ficou em segundo plano hoje para a nossa nação e nossa vida...Talvez se conseguirmos o título poderemos iniciar um 2023 melhor seja ele qual for afinal o futebol nos encanta e somos de fato o país do futebol.


(*) O autor é médico e membro da Academia Venceslauense de Letras

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